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- Capítulo 10
Aquele túnel
não fazia parte do caminho turístico que adentrava o Monte Lua e levava os
viajantes em segurança até Cerulean, cidade costeira que ficava ao pé da cordilheira.
Na verdade, ele fazia parte de uma rede maior de túneis secundários que se
aprofundavam pelas entranhas daquela montanha, que mais parecia um labirinto
com seus caminhos que se fundiam e se separavam a todo instante e que
facilmente confundiria a mente das pessoas que não estariam habituadas a
percorrê-los.
E foi naquele
túnel, em meio ao breu, que uma lâmpada improvisada foi acesa. Sua luz forte de
tom amarelado rapidamente percorreu até onde a vista alcançava. Os homens que foram
revelados pela luz instintivamente colocaram seus braços na frente de seus
rostos para amenizar a súbita exposição com a iluminação repentina. Todos eles vestiam
o mesmo uniforme, composto por camisas pretas de mangas compridas e calças de
mesma cor, acompanhadas por luvas e botas cinzas. Aqui ou acolá, certos homens tinham
até mesmo uma boina preta descansando sobre suas cabeças.
Um dos homens,
no entanto, trajava um terno roxo com uma pequena letra “R” bordada no bolso
direito do peitoral definido. Seja o que fosse que aquilo significasse, ele
deixava bem claro que carregava em seu coração. Ele exercia uma certa liderança
em todos aqueles homens, talvez pelo ar de soberba que carregava, ou talvez
pelo cabelo perfeitamente penteado que não desmanchou um fio sequer, mesmo após
ter acendido a luz e sentir o calor emanado pela lâmpada incandescente. Ao
encarar o grupo, um sorriso frio tomou parte de seu rosto.
— Muito bem
homens, hoje faremos um estrago no Monte Lua até que alguém encontre a arma do
chefe.
***
Red despertou
antes mesmo do sol nascer. Quando os primeiros raios de sol invadiram o quarto,
o menino assistia do parapeito da janela e se deixava admirar as belezas que só
costumavam acontecer naquela hora da manhã, como a revoada de Pidgey saindo de
seus ninhos em busca de alimento e um grupo de Raticate correndo por entre as
árvores da Rota 3 para se esconder de predadores diurnos.
Ele e suas
duas companheiras de viagem se hospedaram no Centro Pokémon aos pés do Monte
Lua para passar a última noite. Depois que saiu de Pewter, o trio foi obrigado
a acampar na estrada por duas noites e, diferente da Floresta de Viridian, a
grama por ali não era tão alta, e quanto mais perto da base do Monte Lua eles
chegavam, mais rochoso ficava o solo. Mesmo com seus sacos de dormir, os jovens
só tiveram algum conforto à noite usando roupas sujas como travesseiros. Encontrar
o Centro Pokémon foi um alívio, eles finalmente puderam dormir em uma cama
novamente para fechar as comemorações do aniversário de Red com chave de ouro. Janine
até comentou que costumavam dizer que quando a lua alcançava o ponto mais alto
do céu, era possível ver o cume do Monte Lua brilhar, e por isso ela queria
ficar acordada até tarde da noite para tentar identificar o que levava a isso,
mas no final, o colchão fofinho e a coberta quentinha a fizeram cair no sono
antes mesmo da meia-noite.
O Monte Lua
era uma das formações geológicas mais importantes da região de Kanto. Era de
onde se originavam as Pedras da Lua, que podiam liberar novos poderes para
certos tipos de Pokémon e que eram mineradas e vendidas por altos valores em
diversas regiões do mundo. Havia um túnel principal, maior, e bem-sinalizado,
por onde turistas podiam admirar a beleza interna do lugar e por onde viajantes
cruzavam entre Cerulean e Pewter de forma mais rápida do que seria se tivessem
que dar a volta ao redor da montanha. Apenas os trabalhadores das minas se
aventuravam pelos outros túneis cavados na procura pelas pedras valiosas. Alguns
pesquisadores afirmavam que devido às condições climáticas e geológicas, o
Monte Lua deveria ser considerado um sítio arqueológico, já que havia estudos
que indicavam que poderiam haver fósseis de Pokémon antigos ainda presentes no
interior selvagem da montanha.
Janine queria
ter a experiência de atravessar um dos mais importantes marcos naturais da
região. Estava em jornada para vivenciar esse tipo de experiência que não se poderia
ter em casa.
Para Red era
apenas uma montanha, um caminho, que eles teriam que atravessar para chegar à
próxima cidade. O que se podia ter de interessante em olhar para um monte de
pedras? Mas a ideia de que espécies de Pokémon que ele ainda não tinha
capturado poderiam estar vivendo nos túneis o deixava um tanto quanto animado.
Yellow não
entendia nem um, nem outro. Mas ela podia sentir em seu íntimo que algo
estranho estava no interior daquele lugar. Era como se algum tipo de energia
negativa emanasse por entre todas aquelas toneladas de terra e ela fosse o
único instrumento que o captava.
Apesar da
fome, Red esperou que as amigas acordassem para que os três pudessem fazer o
desjejum juntos. Yellow acordou pouco depois das sete da manhã e se prontificou
a ir tomar um banho rápido e se arrumar para descer até o restaurante do Centro
Pokémon. Janine foi a última a acordar, lá para as oito horas, depois que o estômago
de Red falou mais alto e ele a cutucou — apesar do susto que tomou quando viu a
expressão mortal que a ninja lançou para ele após a acordar.
Enquanto Yellow
e Red comiam pães com ovo frito acompanhado por uma caneca de café com leite,
Janine não gostava da mesmice e se servia de toda a variedade de bolos e
queijos que conseguia pôr no prato, o que recebeu olhares de desaprovação de
alguns do que estavam sentados nas mesas aos arredores.
Devidamente
alimentados e asseados, fizeram o check-out do Centro Pokémon e partiram rumo à
entrada do Monte Lua, que apesar de não ter nada de especial, ainda era
impressionante. Não era nada mais do que um enorme buraco na parede provavelmente
feita por explosivos, mas era uma abertura incrivelmente grande que facilmente
davam passagem para uns três Onix alinhados lado a lado, com folga.
Uma fileira
de lâmpadas fluorescentes alinhadas guiava o caminho dos viajantes. Placas e
sinalizações nas paredes indicavam o caminho até a Rota 4, estrada que separava
o Monte Lua da Cidade de Cerulean. Durante o trajeto, os garotos observavam aberturas
nas paredes, muito menores que a da entrada, o que fez com Janine acabasse se
aproximando de uma das placas pregadas próximo a elas, próximo a uma cerca
metálica que impedia, justamente, o acesso.
— “Rede de
Túneis do Monte Lua. Apenas Pessoas Autorizadas” — leu Janine para os
companheiros.
Eles
demoraram alguns minutos ali, já que uma pequena disputa de força foi realizada
entre Red, que puxava Janine, e a própria ninja, que tentava pular a cerca. Yellow
teve que se intrometer para convencer Janine a não transpassar o local
proibido. De braços cruzados e bochechas inchadas de ar, a ninja aceitou a
opinião da loira.
Quase uma
hora após o ocorrido, eles viram outra abertura secundária daquela, mas desta
vez, as cercas metálicas estavam enferrujadas e quase se soltando umas das
outras. Algumas partes da cerca já estavam tão precárias que bastava apenas um
pouco de torção para que uma pessoa pudesse facilmente passar por ali. A placa pregada
não parecia muito mais velha e menos cuidada do que a cerca, mais da metade das
letras já tinham sido apagadas pelo tempo.
Um sorriso
malicioso tomou conta da face de Janine.
— Essa não tá
proibida... — comentou a garota num tom debochado.
— Janine,
você sabe que... — começou Red, mas parou no meio da frase, assustando-se com a
tentativa de Janine de empurrar Yellow através uma das aberturas da cerca
danificada. — Janine, não!
Yellow passou
pela cerca, cedendo à pressão. Red visualizou a cena imaginando perfeitamente
uma Arbok levando um Rattata para uma emboscada.
— Mas,
Vermelhinho-san, a placa não diz que é proibido. Na verdade, não diz nada —
respondeu Janine, fingindo-se de boba.
— Você sabe
muito bem o que estava escrito aí!
Eles voltaram
a discutir. Yellow tentou passar de volta pela cerca, convencida de que era
melhor eles se manterem distantes daquela caverna. Quanto mais ela caminhava
por ali, mais sentia que algo de ruim estava para acontecer. No entanto, Janine
frustrava todas as suas tentativas de voltar para o caminho padrão,
empurrando-a de volta para trás da cerca antes de Yellow sequer conseguir
colocar um dos pés do lado de fora da cerca.
Red e Janine
já falavam mais alto entre si e Yellow não se sentia bem vendo as únicas duas
pessoas com quem ela tinha algum tipo de vínculo brigando.
— Nossa, Red!
Você que amarela e a Yellow que é chamada assim? Meio injusto isso aí! — gritou
Janine, insultada.
Red parou a
discussão de repente ao ouvir um estrondo que crescia aos poucos e de forma
intensa que vinha do interior da caverna. Poucos segundos depois, o chão tremeu
e, em um piscar de olhos, as paredes também tremiam e rachaduras espalharam-se
como fogo em palha, cercando os garotos por todos os lados. O coração de Yellow
batia na garganta, a sensação de angústia tomava conta do seu corpo. Um mau
agouro cercava o ambiente e gritava em seus ouvidos, o que a assustava bem mais
do que a situação em que se encontrava.
Um fino fio
de terra começou a cair do teto da caverna. Red cobriu os olhos com seu
antebraço esquerdo para se proteger e acabou não vendo mais rachaduras se
formando rapidamente ao seu redor. Janine viu parte do teto cedendo metros de
onde eles estavam e, como em um efeito dominó, as rachaduras iam se
concentrando em cima de suas cabeças. Ela concentrou o máximo de força que conseguiu
em suas pernas e deu uma arrancada na direção de Red. Ao se aproximar do
garoto, abriu os braços como um gancho e agarrou o amigo pela cintura,
jogando-se com ele no chão de pedra alguns metros à frente. O garoto se
espantou com a pressão em seu abdome seguido pelo ardor nos cotovelos, onde
tinha se ferido. O braço direito da ninja também estava ralado, do punho até o
ombro. Felizmente não estavam gravemente feridos. Red levantou seu tronco para
olhar na direção de Yellow, mas sua visão foi bloqueada sem demora por uma
enorme rocha que caiu na frente dos dois.
Mais pedras
caíram em seguida. Com diferentes tamanhos, juntas, criaram um bloqueio entre Red,
Janine e Yellow, que estava em silêncio. Algumas lâmpadas ao redor se apagaram,
devido ao tremor. Apenas o silêncio mórbido tomava conta do ambiente.
— Yellow!
YELLOW!!! — Red gritou a plenos pulmões. Nunca gritara tão alto na sua vida
como gritava agora. Chamava pelo nome de Yellow, com a voz coberta em
preocupação.
— Red!
Janine! Vocês estão bem? Vocês se machucaram? — chamou a voz da menina,
completamente abafada, mas ainda assim, audível o bastante para um suspiro de
alívio.
— Nós estamos
bem! A gente vai tentar trazer você pra cá! — prometeu Janine — Se tivesse ao
menos alguma maneira de tirar essas pedras todas do caminho... — comentou
Janine em tom mais baixo, procurando por alguma brecha na montanha de destroços
na sua frente.
Red sacou uma
PokéBola, deu alguns passos para trás e a arremessou.
A luz
proveniente da esfera tomou conta da penumbra por alguns segundos, até que aos
poucos se extinguiu, dando origem a um Pokémon: Mankey. O primata olhou ao
redor, forçando os olhos para enxergar na escuridão. Viu seu treinador e sua feição mudou
rapidamente, agora transmitindo raiva. Fechou os punhos e franziu a testa, caminhando
lentamente em direção à Red, que rapidamente apontou para as pedras atrás do
Pokémon.
— Calma,
Mankey! Antes de você me bater, eu preciso de um favor seu. Você poderia ajudar
a gente a remover essas pedras? Yellow está atrás delas!
Janine
aproximou-se do garoto e desferiu-lhe um tapa no cocoruto, o que fez Red soltar
uma audível reclamação.
— Ai! Tá
doida, Janine?!
— Você é quem tá lelé da cuca! —
retrucou a garota. — Olha o quanto de pedra que tem aqui! Você acha realmente que o Mankey dá conta de carregar
tudo?!
O Pokémon de
Red olhou para Janine e começou a pular e a grunhir com indignação. Batendo no
peito, bufava e chutava o ar em protesto ao questionamento da garota. Jamais
admitiria esse tipo de coisa! Correu para a pilha de pedras que bloqueavam a
passagem e tentou levantar a maior de todas, mas não conseguiu movê-la nem
mesmo um milímetro.
Red percebeu
que não adiantaria o esforço e retornou seu Pokémon para a PokéBola. Ele e
Janine se aproximaram das rochas e junto com Yellow pensaram em um plano.
— Ninguém
mais tem um Pokémon que possa ajudar o Mankey e a gente a remover as pedras? —
perguntou a loira do outro lado da parede de entulho.
—
Eu não tenho... — respondeu Janine com certa lamentação.
—
Eu acho que o melhor a se fazer é esperar ajuda — disse Red.
Houve
um silêncio repentino entre eles.
—
Amigo, eu não sei se você percebeu, mas... DESABOU METADE DA CAVERNA! — bradou
Janine. — E você espera que a gente fique aqui até nos encontrarem? É, talvez
você tenha razão, porque até lá estaremos mortos!
—
E você tem uma ideia melhor? — retrucou o garoto cruzando os braços.
—
Eu acho que a gente deveria procurar uma saída e se encontrar por lá.
—
Janine, tem zilhões de túneis nessa
caverna, não vai dar pra gente ficar separado!
—
Red, eu acho que a Janine tem razão... Ficar esperando aqui não vai ser bom.
Foi
o menino quem havia se calado agora.
—
Então eu acho bom que a Yellow possa encontrar uma saída da parte dela e que a gente
se cruze lá na frente em algum desses túneis. Ficar aqui não vai adiantar nada.
O
garoto não respondeu. Não tinha o que responder, ele sabia que havia sido
vencido. Logo, ele, Janine e Yellow se separaram e pegaram caminhos opostos.
A dupla então
deu início à caminhada de volta até acharem a primeira entrada para os túneis
secundários no caminho. A ninja ajudou Red a pular a cerca e o seguiu logo em
seguida. Por conta de serem menos trabalhados, os túneis secundários pelos
quais Red e Janine caminhavam eram, notavelmente, menos iluminados, o que fez a
garota tirar uma lanterna de sua mochila. Ela sabia que aqueles tremores no
Monte Lua não eram comuns. Aquilo não aconteceu naturalmente, fora provocado
por intervenção humana — talvez pelas escavações atrás de minérios. Mas
conforme andava e notava os incontáveis buracos nas paredes, Janine se
perguntava se não havia certo tipo de exagero naquilo. Não era à toa que tudo
estava desabando.
Depois de
vários minutos perambulando pelos labirintos de túneis dentro da caverna, a
dupla ouviu um grito. Uma voz grave que vinha de um túnel perpendicular alguns
metros à frente deles sinalizava que alguém ficou surpreso com a luz da
lanterna de Janine. Ela, em um movimento automático, logo tratou de desligar o
dispositivo e empurrou Red até a parede, torcendo para que não tivessem sido vistos
e, fazendo um sinal para o menino, levou o dedo indicador até os lábios,
pedindo silêncio, na intenção de se manterem imperceptíveis no breu que
dominava o local.
De repente,
uma luz muito mais forte do que a que emanava da lanterna de Janine foi acesa
em direção a eles. Os dois tiveram que proteger os olhos com os braços por
conta do desconforto.
— Merda... —
praguejou o homem. — Não queria ter que dar fim em testemunha, ainda mais duas
crianças...
Janine e Red
abriram os olhos e viram um homem vestido com um uniforme preto. A letra R
estava estampada em vermelho em sua camisa. Imediatamente os dois recordaram
dos invasores do museu em Pewter.
— São
crianças, Joaquim — disse outra voz. — A gente pode só ameaçar eles pra não
abrirem o bico.
— Você falou
meu nome na frente deles, porra! — reclamou o primeiro — Agora que a gente
precisa mesmo dar um fim neles!
— Só se for
na senhora sua vó! — gritou Janine jogando uma PokéBola que rapidamente sacara
sem que os outros percebessem.
Um pequeno
broto se materializou do raio vermelho que se originou da cápsula e avançou na
dupla usando chicotes de cipó que brotavam do graveto que formava seu tronco.
Os outros
dois homens lançaram suas PokéBolas para se defender do ataque do Bellsprout.
Delas, Rattata e Ekans se mostraram prontos para o ataque e logo partiram para
cima do Pokémon de Janine, que agilmente agarrou e estrangulou o roedor inimigo
com um de seus chicotes. Ekans escapou do segundo e abocanhou o esguio corpo do
Pokémon, que guinchou.
— B.! —
Exclamou Janine, levando as mãos à cabeça.
Red percebeu
que deveria ajudar e arremessou a PokéBola que continha Mankey pela segunda vez
aquele dia. O primata continuava com uma expressão furiosa em seu semblante,
mas antes que atacasse seu treinador, se deu conta dos dois oponentes à sua
frente e, sem esperar ordens do seu treinador, correu em direção da serpente e aplicou
um soco na lateral da mandibula, fazendo-a soltar Bellsprout de suas presas.
— Mankey, ataque o Rattata! Low Kick! — pediu o garoto.
O Rattata
inimigo era um alvo fácil preso no cipó de Bellsprout. Sem se preocupar, Mankey
correu e aplicou um chute no focinho de seu inimigo. O roedor guinchou e
cambaleou, mas The B. fez questão de finalizar jogando-o contra o chão duro e
áspero de pedra, nocauteando-o.
Ekans tornou
sua atenção para Mankey e deu o bote. Suas presas fincaram no braço do macaco e
ele guinchou de dor ao mesmo tempo em que balançava o braço tentando bater o
inimigo contra o chão, sem sucesso. Bellsprout aproveitou a oportunidade para
segurar a cobra com seus dois cipós dessa vez.
— Fury Swipes! — pediu Red ao seu Pokémon,
que com um sorriso malicioso, logo correu para atingir a serpente.
No entanto, o
garoto percebeu que Mankey arranhava o rosto do oponente utilizando apenas o
braço esquerdo, enquanto o direito estava encolhido como se o Pokémon sentisse
dor ao movê-lo.
— Ele deve
estar envenenado... O Poison Sting da
mordida do Ekans deve ter feito isso. — explicou Janine à Red.
— Droga! E o
que eu posso fazer agora? — perguntou Red, preocupado.
— Deixa
comigo. B., use Sleep Powder!
Bellsprout soprou
pela boca um pó prateado em direção à Ekans que caiu adormecido após inalá-lo.
Com o inimigo
imóvel graças ao sono, o Pokémon de Janine agarrou-o com seus chicotes e o
lançou contra seu treinador, que assustado com a ação, não deu conta de segurar
seu Pokémon e caiu de costas junto com ele no chão.
Joaquim e o
colega retornaram seus Pokémon às PokéBolas.
— Bater em
retirada! Precisamos de reforços! — bradou um deles.
— Você tá
louco? Imagina só o que eles vão fazer com a gente se descobrirem que a gente
apanhou de dois pirralhos!
A dupla deu
alguns passos para trás e saiu correndo na direção oposta de Red e Janine,
deixando-os no escuro por alguns instantes. Janine voltou a acender a luz da
lanterna e correu em direção à Mankey, abaixando-se para ficar na sua altura. A
menina tirou de sua mochila um spray. Destampou o frasco e om cuidado, pegou o
braço de Mankey e espirrou o medicamento em uma grande área ao redor de onde
fora mordido. Red olhava com atenção.
— É sempre
bom carregar alguns antídotos quando se trabalha com situações em que a gente
pode acabar intoxicado, não acha? — questionou a ninja levantando-se e
sorrindo, balançando o frasco vazio do antídoto na mão.
— Valeu
mesmo, Janine... — respondeu Red com um tom de remorso em sua voz.
— Tá tudo
certo, um dia você aprende. O importante agora é achar onde aqueles caras estão
escondidos.
— E a gente
vai fazer o quê? A gente não dá conta de derrotar vários de uma vez. Você viu
que foi o Brock quem fez boa parte do trabalho lá no museu...
— Ai, Red,
tolinho... — disse enquanto tirava um saquinho lacrado que continha alguns
gramas de um pó bege da sua mochila. — Você deveria confiar mais em mim de vez
em quando, sabia?
— Janine, mas o que
você...?
Com um riso sinistro,
a ninja tornou a colocar sua mochila nas costas e seguiu pelo túnel com Red
logo atrás, insistindo em saber sobre o que a amiga carregava na mochila.
***
Perdida e
desorientada, Yellow andava pelos túneis sem saber para onde ir. Não era a
primeira vez que se sentia assim. A menina estava tão absorta em seus próprios
pensamentos que esquecera por um instante que Pichu estava deitada no topo de
sua cabeça. Ela chamou pela Pokémon que logo se mostrou acordada e disposta a ajudar
se fosse preciso.
Já caminhava há tanto
tempo que seus olhos já tinham se acostumado com a escuridão, o que fez que
eles se fechassem quase que imediatamente ao enxergar luz ao fazer uma curva
numa intersecção de túneis. Em algum ponto mais a frente em seu caminho havia
lâmpadas. Ela apertou o passo na direção delas e descobriu que eram luzes de
emergência. Deviam ter acendido após o tremor. Após alguns segundos deixando
com que suas pupilas se acostumassem novamente à luz, ela encarou o chão. Pichu
pulou ao chão e correu até uma ferramenta que descansava a alguns passos delas.
Uma picareta. Não
estava nova, mas tampouco parecia velha. Estava um pouco empoeirada, e a ponta parecia
não estar tão apontada quanto deveria. Parecia abandonada ali, pelo menos, já
há alguns dias. Pichu caminhou um pouco mais e retornou com uma embalagem
aberta de chocolate.
Yellow parou por um
instante para analisar o ambiente e concluiu que aquele túnel devia estar sendo
utilizado por mineiros há pouco tempo, afinal, havia rastros de presença humana
recente. Agradeceu a sorte de achar um local que, ao menos, lhe dava esperança
de algum resgate aparecer. Sentou-se em cima de uma das pedras próximas e
arriscou beliscar o chocolate trazido por Pichu.
Depois de muitos
minutos, talvez até algumas horas, algo apareceu. Não era uma equipe de resgate
como ela esperava, mas sim, uma criaturinha pouco maior que Pichu. Estava
tentando observar escondida atrás de algumas pedras, mas o som que fez ao se
surpreender ao ver um ser humano chamou a atenção de Yellow.
A garota levantou-se
para se aproximar da criatura. O Pokémon desconhecido deu um pulo para trás,
com medo. Pichu não tardou a se aproximar também, e brincando ao redor do novo
conhecido, conquistou sua confiança. Yellow esticou a mão e fez um carinho no
topo da cabeça do Pokémon que estava ali e sorriu ao receber um grunhido de
felicidade em resposta.
Agora que podia ver
bem o Pokémon, conseguia reparar no tom rosado de sua pele, e no pequeno tufo
que se assemelhava a um topete em sua testa. Tinha uma cauda bem grande,
considerando o tamanho de seu corpo, que estava enrolada. Em suas costas, duas
asas que se assemelhavam a um laço exuberante, se fazia presente, adornando o
pequeno. Parecia uma fada embalada para presente.
A humana se agachou
para olhar nos olhos do monstrinho em uma altura mais próxima. Perguntou seu
nome e ouviu um som em resposta.
— Cle... fairy? —
perguntou Yellow, recebendo uma confirmação do Pokémon. — Muito prazer. Meu
nome é Yellow. E essa é a Pichu.
A loira mal pode terminar
de conversar com Clefairy. Outros Pokémon da mesma espécie passaram correndo
por um túnel transversal. Uma delas parou por um segundo para ralhar com a que
conversava com Yellow. A desgarrada voltou o olhar para a menina, e novamente
para o grupo que andava apressado. Deu um leve puxão na mão da humana,
convidando-a a segui-la.